quarta-feira, 6 de julho de 2022

Uma travessia no deserto

O mundo está numa correria, cada um para seu canto e focando apenas nas suas coisas. Falam por aparelhos em curtas mensagens, mas não são capazes de pegar nesses mesmos aparelhos e ligar, ouvir a voz, estar mais próximos. Há pessoas que passam horas no telemóvel, perdendo tempo que têm e que não têm, muitas vezes desprezando o outro que o rodeia.

E quando alguém decide ficar um tempo à antiga, sem essas redes "sociais" (que de sociais pouco têm) as pessoas ou ignoram (como sempre fizeram) ou criticam, mas não são capazes de fazer nada para compreender a posição, nem apoiar.

É como alguém que decide fazer uma travessia no deserto, onde automaticamente ganha tempo para si. Vai sozinha porque as pessoas à sua volta têm a sua vida já organizada. Mas neste momento não isso que a demove. Quando diz a para onde vai, os outros criticam e é como se lhe colocassem pedra na mochila. Mas ninguém lhe diz "vou contigo" ou um simples "precisas de água?". 

Durante esse tempo, os mesmos que criticaram não são capazes de ligar ou de dizer um simples "Bom dia". Já dizia um grande sábio "são mais as cartas de contas para pagar, do que chamadas ou visitas de amigos".

No momento de fazer a mala, ou da ultima noite antes de partir, acaba por sair sozinha, porque estão todos ocupados. Ainda lhes envia uma mensagem, à qual respondem tarde, ou não respondem. No momento da partida ninguém aparece para um "boa sorte" e então parte mesmo sozinha, por fisicamente e psicologicamente, e despede-se de um "Continuação de boa semana"

Depois eles não se admirem se não voltar mais. Nesta travessia aprende-se a viver só e viver bem no deserto, fechando a porta de vez aos laços que nunca foram criados.

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