Começa a anoitecer e tocam os sinos à hora certa. Pouco se percebe dado o barulho das pessoas que andam desenfreadamente pela rua. Mas algo de estranho se passa numa sala.
Aparentemente tudo está normal. As pessoas falam e riem. Existe bastante comida e bebida em cima da mesa, e até alguns doces. Mas algo está estranho nessa sala.
As pessoas convivem em pequenos grupos, segundo os seus núcleos. Vão comendo e voltam ao seu grupo. Mas olhando com mais atenção, quando a noite domina e a lua começa a crescer, um vulto, sem cor, encontra-se na sala. Pouco se movimenta, está sentado no seu canto, longe dos restantes grupos e do convívio. Fico cuidadosamente a observá-lo. Raramente se levanta, apenas para ir buscar algo para comer. Parece ferido, pois mal se aguenta.
Porque está ele ali sozinho? Será que não pertence a nenhum grupo? O que tem ele nos pulsos? Porque parece que custa a andar? Estará mesmo ferido? Como se feriu?
E os outros, porque não o chamam? Será que ninguém o consegue ver? Será um fantasma que poucos notam nas suas feridas?
E porque come e bebe assim? Encontrou aí consolo e companhia?
Ele vai para a rua. Vou segui-lo de mais perto. Para onde vai? Está a vaguear sozinho pelo jardim, entre as árvores e os bancos. Passa horas assim, como se estivesse sobrevoando caminhos conhecidos.
E do nada, às duas da manhã desaparece, sem deixar qualquer rasto.
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